domingo, 12 de junho de 2022

O professor do futuro – Gabriel Perissé

    “Para ensinarmos um aluno a inventar precisamos mostrar-lhe que  ele  já
possui a capacidade de descobrir”  (palavras  do  filósofo-poeta  Gaston
Bachelard).
    O professor, como os artistas, provoca o amor pelo conhecimento,  um
amor que já existia em nós, mas estava adormecido.
    O professor, como os profetas, desencadeia um processo de descoberta
pessoal que, por sua vez, ativa nosso poder criador.
    Desencadear é retirar o cadeado.
    O professor liberta seu aluno. E os melhores alunos largam  as  mãos
do mestre, depois de descobrir sua  capacidade  de  andar  sozinhos,  de
correr sozinhos, de voar mais alto.
    Muitos estudantes andam presos, e por isso deixam  de  andar.  Estão
paralisados pelo  medo,  pela  falta  de  horizontes.  Estão  perplexos,
olhando sem ver, ouvindo sem  escutar,  falando  sem  dizer,  lendo  sem
entender, escrevendo sem pensar.
    Muitos estudantes estão na  cadeia  do  desânimo,  não  sabem  abrir
caminhos com a força dos seus passos.
    Muitos estudantes são vítimas de uma reação em cadeia. Não agem,  só
reagem. Mal se defendem do mal. Passam de ano  sem  passar.  Passam  sem
pensar. São passados para trás. Sem saber por quê, e  por  quem.  Passam
mas não ficam. Ou passam e continuam presos ao passado.
    O professor do futuro (e do sempre) deve ensinar, no presente, não o
método que passa (e até faz passar…), mas a alma que permanece.
    Deve ensinar,  não  a  única  resposta  certa  em  meio  à  múltipla
desescolha, mas a capacidade de cometer erros criativos, de ver  que  um
fracasso, didaticamente, vale mil sucessos.
    Ensinar, não a opção  correta, a única porteira pela  qual  a  boiada
passa, de cabeça baixa, para o matadouro, mas  a  coragem  de  pular  no
escuro (se for preciso), e com os olhos abertos.
    Transmitir, não o conhecimento mastigado, a ração, mas despertar  no
aluno a vontade de mastigar por conta  própria,  de  usar  a  razão,  de
saborear conhecimentos tradicionais e inéditos.
    O professor do futuro ensina, não o caminho das pedras, mas  o  amor
às pedras que existem em todos os caminhos.
    O verdadeiro professor é um inspirador.
    Suas aulas são poéticas, proféticas.
    Não hipnotizam, acordam. Não cansam, desafiam. Não anestesiam, fazem
refletir.
    O professor inspira confiança, inspira o desejo de chegarmos  a  ser
deuses.
   O professor do futuro torna o futuro mais real que a banal ilusão…
desilusão que alguns chamam de realidade.

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