Por Paulo Cursino
Quem fez faculdade de propaganda e marketing conhece bem o case do Leite Moça no Brasil, um dos mais clássicos. Nos anos 20 do século passado, o leite condensado não era utilizado para fazer doces, era apenas uma fonte alternativa ao leite fresco. Bastava aquecer, dosar com água, que garantia o alimento da criançada. Pergunte a seus avós ou bisavós. Em uma época onde geladeira era artigo de luxo o leite condensado era o produto perfeito, pois era fácil de guardar e estocar por longos períodos. Com a popularização dos refrigeradores nos anos seguintes o leite condensado perdeu mercado e precisou encontrar outros nichos. Foi então que a Nestlé resolveu investir nos doces, cremes e bolos e recriou o produto, encontrando uma nova função e garantiu sua sobrevivência.
Esta breve historinha vem bem a calhar hoje por conta da fake news mais estúpida plantada pelos detratores do atual governo. Porque, poucos sabem, mas até hoje Ministério da Defesa e Funai dependem de leite condensado pelos mesmos motivos. Em locais distantes, pouco acessíveis, não é viável o transporte e armazenamento de leite fresco, pois estraga rápido. Sim, mesmo depois de um século o Brasil ainda precisa de leite condensado pelos mesmos motivos de nossos avós. O desconhecimento da nossa elite pensante sobre história e geografia do próprio país é tão grande que a maioria acha que leite condensado só serve para fazer cajuzinho. Em outras palavras: a tua indignação com as compras de leite condensado do governo só não é maior do que a tua ignorância sobre o próprio país.
Neste momento estou apenas observando até onde vai esta ignorância e tentando ver quando a turma progressista de Projac, cartunistas engajados, e esquerdistas de Iphone em geral, sustentarão esta fake news com piadinhas e memes. Estou adorando ver a corda esticando. Já há os que se deram conta da burrada e bancam os cínicos. Mas ainda há os irremediáveis de sempre que realmente acreditam que Bolsonaro passou 15 milhões de leite condensado em pão francês e comeu no café da manhã. Já recebi até WhatsApp de tia com a explicação correta – o povo costuma ser mais esperto que muito formador de opinião nessas horas – e estamos presenciando apenas mais uma desmoralização para o já combalido jornalismo brasileiro. Nem falo mais nada, cansei. Todo mundo já sabe que é uma compra corriqueira normal do governo brasileiro feita desde sempre. Aliás, até o governo Dilma gastava mais do que isso. Basta procurar pra saber. Pesquise. Use o Google. Mas aí é que está: não procuram, não querem, esta turma não tem coragem de lidar com a verdade, porque estragaria a narrativa. As discussões na rede realmente viraram implicância de crianças em playground onde o que importa é a birrinha, não o fato. Jogam a mentira para ver se cola e pronto. Porque nada nisto faz sentido.
Estão criticando as Forças Armadas e tudo o mais. Ora, quem serviu quartel – e eu servi – sabe que sempre rola um pudim de leite algum dia da semana em bandejões, não é algo anormal ou absurdo, até mesmo em outras repartições. Acho impressionante como as pessoas se indignam com coisas tão simples e óbvias. A elite que nunca comeu um sagu de escola municipal na hora do recreio não faz ideia de como o estado gasta com as pessoas. Sim, há doces. Sim, há leite. Sim, há até chicletes. Você pode até discordar de um item ou outro, vá lá, eu também discordo. Mas antes é preciso saber como a coisa funciona. Só intolerantes criticam o que desconhecem. Não é a indiscrepância do governo o que está sendo exposta, mas, mais uma vez, a sua completa ignorância de como funcionam as contas do estado, o governo, e o Brasil. Ontem um idiota útil chegou a postar aqui, em um post meu, uma ordem de compra, ou de licitação, sei lá, com o suposto preço de R$ 162 reais por caixinha tetra pak de 365g. Na verdade tratava-se do preço de DUAS CAIXAS com trinta latinhas ou caixinhas cada, uma mera marcação de sistema, até porque não faz sentido comprar apenas duas latas para uma unidade do exército ou quartel que seja. Acreditar no superfaturamento de apenas DUAS LATAS é algo tão idiota que se eu colocar num filme ninguém acreditaria. O cara não entende o básico do básico. Quando se superfatura algo, fatura-se com o todo, até para não dar na cara, qualquer um que acompanha política sabe isso. Se você acredita mesmo em DUAS latas superfaturadas, está passando recibo de iletrado, de quem não entende o que lê, ou não sabe pensar. Faturar apenas duas latas por mais de trezentos reais é burrice demais para qualquer governo, até mesmo para o atual.
O fato é que a gritaria ganhou rede, já foi desmentida hoje por gente séria e agora, mesmo assim, mesmo ganhando ares de farsa, ninguém quer voltar atrás e assumir o mico do mico. Virou aquela "brincadeirinha!" de uma pessoa que fala uma merda a sério e depois tenta disfarçar na mesa. Desculpa, pessoal, mas todo mundo viu: você é um papagaio que apenas repete o que te ensinam a repetir. Todo mundo agora sabe que não é verdade, mas dane-se, o importante é tentar causar dano no Darth Vader no poder, ainda que seja com mentiras. "Ah, Cursino, isso faz parte do jogo político, deixa pra lá". Já deixei muita coisa passar, acreditem, porque cansa explicar o óbvio sempre. Porém, acho que sempre vale o toque: um ataque mentiroso como este pode dar até mais força para o governo que seus críticos tanto detestam. A sua desonestidade ao apoiar uma fake news joga contra qualquer discurso de mudança, sinto muito. Porque, supondo que o presidente seja realmente desonesto, responda depois de pensar um pouco: por que o povo trocaria um lado desonesto por outro? Na boa, vocês não estão mandando bem há muito tempo. Só o seu coleguinha de trabalho é que acha. Se quiserem mudar alguma coisa em 2022 comecem mudando a si mesmos. Nunca vá pela manchete, leia a notícia toda, e DUVIDE sempre. Faz bem para a cabeça e para todo mundo. A única certeza nisto tudo é que política é um troço tão nefasto que nem com leite condensado ela melhora. Sério, na boa: vá fazer um pudim que você fará mais pelo país do que vem fazendo.
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