quarta-feira, 18 de julho de 2012

MITAMAMIGAKI

O MITAMAMIGAKI É A LIMPEZA PROFUNDA DOS NOSSOS SENTIMENTOS E DE NOSSOSANTEPASSADOS, ATRAVÉS DE UMA DEDICAÇÃO DE LIMPEZA FEITA EM SILÊNCIO, COMREFLEXÃO E SONEN PARA ENCAMINHAR NOSSOS SOFRIMENTOS E DE NOSSOS ANTEPASSADOS.
É UMA GRANDE OPORTUNIDADE PARA NOSSOS ANTEPASSADOS DEDICAREM ECOMPREENDEREM MEISHU SAMA E SUA GRANDIOSA OBRA E ASSIM ACEITAREM A SALVAÇÃO QUEESTÁ SENDO OFERECIDA.
Com esse sentimento estaremos realizando, a partir do dia 16.07.2012, diversos Mitamamigakis, no Johrei Center Savassi e na Sede da Área, com o objetivo de purificarmos nossos sentimentos e de nossos antepassados, para PEREGRINARMOS AO SOLO SAGRADO COM O SENTIMENTO DE ENCONTRARMOS COM MEISHU SAMA NAQUELE LOCAL SAGRADO E VOLTARMOS RENOVADOS, REINICIANDO UM NOVO CICLO NAS NOSSAS VIDAS, DE PROSPERIDADE, PAZ, SAÚDE, ALEGRIA, AMOR, COMPREENSÃO, HARMONIA, SABEDORIA.

Pratica messiânica

Mitama Migaki: “polimento da Alma”
(Não é apenas uma simples limpeza de um local)

         Para praticarmos Mitama Migaki precisamos limpar do nosso Sonen sentimentos negativos e realizar a seguinte reflexão: "Reconhecermos que cometemos pecados através do pensamento palavras e ações e nos arrependermos dos erros cometidos nesta e em outras existências, consertar as nossa falhas por intermédio das praticas básicas da fé messiânica, solicitar humildemente o perdão do Supremo Deus e transforma-se de materialista para espiritualista". Temos que ter o seguinte Sonen durante a dedicação da pratica do Mitama Migaki: "Vou persistir até conseguir servi e dedicar na Obra Divina com o objetivo que a salvação chegue aos antepassados". Mitama Migaki significa ‘polimento da alma’. O Mitama Migaki verdadeiro começa em nós mesmo, limpando do nosso sentimento as mágoas, ódio, ressentimento, desejo de vingança, julgamento, lamúria e outros sentimentos do nível. Como messiânico precisamos treinar o Mitama Migaki no nosso lar, limpando e embelezando para que nossos familiares se sintam  felizes. Sabe aquela roupa que há dez anos você guarda esperando emagrecer? Doe para uma pessoa que irá utilizá-la. Isso é a essência do Mitama Migaki. O Mitama Migaki no Johrei Center precisa possuir o espírito de salvação. Limpar os locais da Unidade Religiosa para que as pessoas usem esses locais e se sintam felizes. Com essa postura de fé e de profunda gratidão vamos abri veredas para receber do Supremo Deus proteção, sabedoria e Luz.


Paulo Sérgio Monteiro Garcia.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

REPORTAGENS DO ESTADO DE MINAS FALANDO SOBRE TDAH E RITALINA


Uso de drogas contra déficit de atenção explode e ameaça a saúde de milhões de criançasExplode no Brasil o consumo de medicamento para tratar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Em nove anos, a venda subiu de 71 mil caixas para 2 milhões



Publicação: 02/07/2012 06:28 Atualização: 02/07/2012 18:06

Psicólogos estão preocupados com o grande número de alunos que usam remédios em Belo Horizonte (Beto Novaes/EM/D.A Press)
Psicólogos estão preocupados com o grande número de alunos que usam remédios em Belo Horizonte
Estão prestes a estourar no Brasil as sequelas de um surto mundial silencioso que, aqui, tem tido como principais alvos crianças e adolescentes de classe média. Adultos também integram o grupo. Apontadas por muitos como o veneno da atualidade, mas aceitas por outros como solução mais acertada para o tratamento do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), as ‘drogas da obediência’ – assim conhecidos os medicamentos que têm como princípio ativo o cloridrato de metilfenidato – têm sido consumidas em larga escala no país e também em Belo Horizonte. Em 2006, a capital mineira registrava consumo quatro vezes maior que a média do Brasil, nação que tem o título de segundo maior consumidor mundial do psicotrópico e onde, só em 2009, cerca de 2 milhões de caixas das pílulas foram vendidos. A projeção feita por especialistas é de que, em 2012, esses números sejam muito mais altos.

Para piorar o cenário, não há consenso sobre o uso do medicamento entre a classe médica. Há os que o defendem, garantindo que os remédios cumprem sua função para quem sofre do transtorno; do outro lado, gente que teme o pior ao comparar os efeitos das doses aos da cocaína, alertando que meninos e meninas que usam a droga correm risco de vida. Diante do quadro, em que muitos médicos preocupados com o futuro da nova geração chegam a duvidar até mesmo da existência do TDHA – distúrbio neurológico identificado, na maioria das vezes, na idade escolar, em crianças e adolescentes desatentos, agitados e com dificuldades de aprendizagem –, o Estado de Minas publica a partir de hoje uma série de reportagens sobre o uso desenfreado das medicações, conhecidas comercialmente como Concerta e Ritalina.

Na capital mineira, elas têm se tornado “moda” em escolas tradicionais da cidade, preocupando psicólogos que dizem estar diante de um crescimento assombroso no número de alunos medicados. Polêmico, o assunto envolve a indústria farmacêutica, põe em xeque pesquisas científicas e divide a medicina. Não sem razão. Diante da bomba relógio prestes a explodir, laboratórios não divulgam dados de produção nem de vendas. Órgãos públicos, idem; restando ao Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos extrair da publicação de um instituto suíço, que mantém atualizados os dados do mercado farmacêutico brasileiro, assombrosos números que dão o sinal da fumaça.

De acordo com o instituto, em 2000 foram vendidas 71 mil caixas dos psicotrópicos no Brasil, passando para a marca de quase 2 milhões de caixas em 2009. Em São Paulo, onde as drogas são distribuídas via Sistema Único de Saúde (SUS), uma pesquisa de 2011 do Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, composto por cerca de 40 entidades, mostrou que 154 municípios paulistanos compraram em 2005 cerca de 55 mil comprimidos da ‘droga da obediência’. Cinco anos depois, o consumo saltou para 946 mil, 17,2 vezes maior. A projeção para 2011 era de que a compra chegasse a 1.493.024 de doses.

Em Minas Gerais, contrariando a vontade de muitos psiquiatras, a medicação ainda não chegou ao SUS, o que configura, para muitos especialistas, a droga da vez da classe média, já que uma caixa, de acordo com a dosagem e variação no número de pílulas, custa entre R$ 20 e R$ 220. Um levantamento do Centro de Estudos de Medicamentos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) feito com crianças diagnosticadas com TDAH em BH tem números considerados perigosos. “O estudo, ainda em andamento, teve início em 2006 e naquele ano constatamos que a média de consumo da Ritalina em Belo Horizonte era quatro vezes maior que a média nacional e três vezes maior que a projeção calculada para o estado. É preocupante”, alerta o coordenador do centro, Edson Perini.

O especialista diz que o consumo está concentrado nas regiões Centro-Sul e Leste da cidade. “Percebemos o predomínio do uso pelo sexo masculino. Em geral, as prescrições estão dentro dos padrões de dosagem, mas encontramos algumas superdosagens, que não deveriam existir”, alerta.

Pode ser o caso do pequeno M.A.G, de 9 anos. Aos 7, ao sofrer bullying na escola, desenvolveu um quadro de depressão e síndrome do pânico. Os médicos aconselharam os pais a dar Concerta ao garoto, que durante três meses sob o efeito da droga não dormia, ficou ansioso e perdeu o apetite. Aí receitaram, além da “droga da obediência”, antidepressivo e um remédio para abrir o apetite. Os pais recusaram. “O que estão fazendo com as nossas crianças? Como estão sendo diagnosticados esses pacientes? E os remédios, como estão sendo prescritos? É algo que está sendo dado para a ansiedade dos pais, dos educadores e dos psiquiatras para responder às inquietações dos meninos. Alguém está preocupado com isso?”, questiona Perini.

CORRENTE CONTRA
Causa insônia, cefaleia, alucinações, psicose e até casos de suicídio. Faz com que a criança fique quimicamente contida em si mesma, todos considerados sinais de toxicidade, indicando a retirada da droga. No sistema cardiovascular o remédio causa arritmia, taquicardia, hipertensão e parada cardíaca. O risco de morte súbita inexplicada em adolescentes é maior entre aqueles que tomam o remédio. Além disso, interfere no sistema endócrino, na secreção dos hormônios de crescimento e dos sexuais. É uma substância com o mesmo mecanismo de ação e as mesmas reações adversas da cocaína e das anfetaminas, segundo médicos que não adotam o medicamento.

CORRENTE A FAVOR
A maioria dos pacientes tolera bem a medicação, que altera o organismo para que o cérebro funcione melhor. É como um par de óculos: corrige a maneira como a criança enxerga o mundo. Pacientes agitados, impulsivos, com dificuldades de aprendizagem, ao usarem o remédio, conseguem prestar mais atenção nas suas tarefas e aprendem com mais facilidade. O remédio é seguro e apresenta até 80% de eficácia. Mas deve ser sempre usado com acompanhamento médico e adequadamente prescrito, segundo seus adeptos.


CONCENTRAÇÃO POTENTE
A Ritalina e o Concerta (nomes comerciais dos remédios produzidos pela Janssen Cilag e Novartis, respectivamente) têm como princípio ativo o cloridrato de metilfenidato e são indicados para tratar o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Ambos, prescritos para crianças acima de 6 anos, estimulam o sistema nervoso, deixando os pacientes mais concentrados para a aprendizagem, e facilitam a circulação da dopamina, neurotransmissor responsável por excitar o sistema nervoso central. A Ritalina surgiu em meados dos anos 1950 e está disponível em duas formas: a Ritalina de longa duração, que age no cérebro por oito horas; e a que age por quatro horas. O Concerta está no Brasil desde 2004 e tem atuação de 12 horas.


Ponto crítico

Esses medicamentos são tão vilões quanto parecem?


Maria Aparecida Affonso Moysés
doutora em medicina, professora titular de pediatria da Unicamp e membro fundadora do fórum de medicalização

SIM


O consumo exacerbado das “drogas da obediência” é o genocídio do futuro. Vivemos, sim, uma epidemia. A Ritalina e o Concerta são drogas derivadas da anfetamina e da cocaína. A medicação age aumentando a concentração de dopamina (neurotransmissor associado ao prazer). Como o remédio age por algumas horas, quando o efeito passa, tudo que o usuário quer é ter aquele prazer de volta. Quem usa esse estimulante fica com a atenção focada. A criança só consegue fazer uma coisa de cada vez, por isso, fica quimicamente contida, não questiona nem desobedece. Cada vez mais os pais estão sendo desapropriados pelos profissionais da saúde e da educação de ver seus filhos e de ouvir o que eles querem dizer. Então, se ele está agitado, desatento, impulsivo, vamos dar um remédio para que fique calado e dopado? É mais fácil lidar com um problema ‘médico’ a mudar o método de educação da criança. O TDAH pode ser o grito de socorro de uma criança que está vivendo um conflito em ambientes em torno dela. A pessoa que faz uso desse tipo de remédio tem de sete a 10 vezes mais chances de ter uma morte súbita inexplicada.

Arthur Kummer
doutor em neurociência e professor de psiquiatria infantil da Universidade Federal de Minas Gerais

NÃO


Os medicamentos não são tão feios quanto dizem. São medicações com maior índice de eficácia na medicina. Quem sofre do transtorno e faz uso deles tem de 70% a 80% de melhora no aprendizado. Nenhum outro medicamento traz essa porcentagem como resultado. Para as crianças em idade escolar, que sofrem do distúrbio, o tratamento medicamentoso é de segunda linha: a primeira seria a terapia comportamental, que conta com a participação dos pais. Mas o grande problema é que há poucos profissionais dessa área, assim, o remédio passa a ser a primeira opção. Os efeitos colaterais são bem tolerados pela maioria dos pacientes. Nunca houve uma morte em virtude das doses. É tão seguro que a Academia Americana de Pediatria dispensa o pedido de eletrocardiograma antes da prescrição. No início, o remédio pode alterar um pouco o sono e o apetite, mas os benefícios superam isso. Meninos da 3ª e 4ª séries, que não conseguiam ser alfabetizados, depois de medicados, em duas semanas, conseguiram aprender. Quem não se trata, no futuro terá nível educacional mais baixo, empregos piores e pode até se envolver com drogas.

Veja reportagem completa sobre a droga da obediênca no Jornal da Alterosa 1ª Edição, às 13h
Déficit de atenção com hiperatividade gera divergências entre médicosNem todos os especialistas reconhecem o déficit de atenção com hiperatividade como doença. Diagnóstico é questionado, pois deve levar em conta aspectos familiares, sociais e ambientais da criança



Publicação: 03/07/2012 11:00 Atualização: 03/07/2012 19:38
A cabeleireira Edna Alves de Freitas Tinoco, de 37 anos, não conseguiu completar os estudos. “Não me concentrava, tinha muita dificuldade e parei na 7ª série”, conta. Depois disso, casou-se, teve filhos e se entregou ao estresse do trabalho. Tentou duas vezes tirar a própria vida. No ano passado, descobriu ser portadora do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Por 12 meses viveu à base de Ritalina, um dos medicamentos receitados para o caso. “Não dormia direito e tive que tomar também antidepressivos. Mas fiquei mais concentrada e desacelerei. Foi bom para mim.” Este ano, largou a medicação, mas está diante de uma nova preocupação: seu filho Caio Vítor, de 12, apresenta os sinais do distúrbio, a escola já “diagnosticou” o mal no menino e médicos indicaram as “drogas da obediência”. Mas Edna se recusa. “Ele está amadurecendo. É um remédio forte, não quero isso para ele.”

Edna, que sentiu na própria pele as consequências diretas da falta do tratamento e as reações fortes das medicações, faz parte da realidade de cerca de 4% dos adultos que sofrem com o transtorno no mundo, segundo estima a Organização Mundial de Saúde (OMS). Seu filho Caio também pode estar na estatística, uma vez que a OMS calcula que entre 5% e 10% de crianças e adolescentes de todo o planeta sofram do distúrbio, que pode ser passado de pais para filhos.

No entanto, a disfunção ainda não é consenso entre os médicos. De acordo com a professora titular de pediatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro fundadora do Fórum de Medicalização da Educação e da Sociedade Maria Aparecida Affonso Moysés, não existe uma comprovação de que haja uma doença neurológica que só altere comportamento e aprendizagem. “A lógica da medicina é comprovar a doença e depois tratá-la. Para essa, que chamam TDAH, o remédio foi encontrado antes”, critica, dizendo se tratar de um meio de controle social de jovens normais, que passam a receber uma medicação com reações adversas graves. “Os diagnósticos são mais uma forma de enriquecer a indústria farmacêutica”, pontua.

As acusações da pediatra não fazem nenhum sentido para o professor titular de psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e professor de pós-graduação em psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), Luís Augusto Paim Rodhe. Reconhecido no Brasil como especialista renomado em TDAH, Rodhe diz que a discussão a respeito do tema está atrasada. “É óbvio que o distúrbio existe. Tanto é que é reconhecido pela OMS”, ressalta. O psiquiatra explica que a disfunção é neurobiológica, de base genética. “Temos estudos que mostram que, partindo de um grupo de 100 crianças com o diagnóstico para o mal e outras 100 com desenvolvimento típico, há de oito até 10 vezes mais casos do déficit nos familiares de quem é portador do que na outras que não sofrem do problema.”

Conforme mostrou ontem a primeira reportagem da série do Estado de Minas, o uso de medicamentos para o transtorno teve um aumento assustador no Brasil, considerado o segundo maior consumidor global dos remédios Ritalina e Concerta (que têm como princípio ativo o cloridrato de metilfenidato): em 2000, foram adquiridas 71 mil caixas dos remédios e, nove anos depois, 2 milhões.

Segundo explica o professor e médico Luís Augusto Rodhe, o TDAH representa uma imaturidade do cérebro herdada geneticamente (veja quadro). Ele diz que cerca de 40% a 60% dos que sofrem dessa imaturidade quando chegam à idade adulta têm uma melhora e “não é verdade que todos sofrem do distúrbio pelo resto da vida”. Segundo o diretor da Associação Mineira de Pediatria, Antônio Marcos Alvim, o TDAH vem sendo descrito por médicos desde o século 18. “Um artigo científico publicado em uma das mais respeitadas revistas médicas, The Lancet, em 1902, descreve uma criança com sintomas de desatenção, impulsividade e dificuldades na escola. O relato é muito parecido com os encontrados nos atuais manuais de diagnóstico. Além disso, essas características são observadas em diferentes culturas, não sendo algo exclusivo dos ocidentais nem do mundo industrializado, como alguns tentam alegar, muito menos de uma “mera consequência da vida moderna”, pontua Alvim.

Competitividade 

Não é o que acredita o coordenador do Centro de Estudos de Medicamentos da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Edson Perini. De acordo com ele, a sociedade está cada vez mais competitiva. “E é necessário um tipo de comportamento para essa produtividade, que valorize o processo criativo e questionador das crianças. Hoje, você não tem que ser um músico, tem que ser um Michel Teló. E esse é o modelo de sociedade que estamos construindo.” Perini soma isso ao mundo da informação cada vez mais rápida e superficial. “Os pequenos também precisam de explicações e aquelas dadas pelos nossos pais não servem mais. Satisfazer a curiosidade e a capacidade criativa é uma coisa que exige da sociedade processos diferenciados. Como dar a resposta a um pai e uma mãe com um filho que não tem o desempenho esperado dele na escola? Às vezes, o menino tem um excelente ouvido para música, mas não vai bem em matemática.”

Escolas vivem overdose de diagnósticos de hiperatividade ou desatençãoÉ raro encontrar criança em idade escolar que não use remédio para domar a hiperatividade ou desatenção. Adultos e jovens adotam o cloridrato de metilfenidato para ter boa concentração em dia de prova ou no trabalho. Sites comercializam a droga e trazem depoimentos de usuários



Publicação: 04/07/2012 07:33 Atualização: 04/07/2012 13:07
Maria Isabel* e a filha, Letícia* (nomes fictícios): a menina usou o remédio dos 8 aos 11 anos e só falava em morrer. A mãe optou por interromper o tratamento (Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Maria Isabel* e a filha, Letícia* (nomes fictícios): a menina usou o remédio dos 8 aos 11 anos e só falava em morrer. A mãe optou por interromper o tratamento
Crianças confusas, agitadas, desatentas, que não conseguem acompanhar o ritmo da escola. Educadores sem preparo para lidar com alunos que necessitam de mais atenção. Pais sem tempo e cheio de dúvidas em relação à educação dos filhos. Médicos que encontram um diagnóstico para responder a todas essas questões e “sossegar” esse desespero. As “drogas da obediência”, assim chamadas as medicações Concerta e Ritalina, que têm como princípio ativo o cloridrato de metilfenidato, são receitadas para quem sofre do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), e estão sendo vendidas, tanto para os diagnósticos corretos, incorretos e até para quem sequer tem suspeita do distúrbio, conforme vem mostrando a série de reportagens do Estado de Minas publicada desde segunda-feira.

Apesar dos medicamentos serem tarja preta – classificação que indica se tratar de remédio de alto risco para o paciente, pois ativa o sistema nervoso central (SNC) ou provoca ação sedativa e, por este motivo, pode causar dependência física ou psíquica – e somente comprados com receita especial, o acesso às drogas é fácil. Além das crianças, o cloridrato de metilfenidato tem sido amplamente usado por jovens que querem se dar bem em provas e por adultos que precisam enfrentar uma reunião, um concurso ou mesmo falar em público, diante de uma apresentação de trabalho.

Pelas escolas particulares de Belo Horizonte é difícil encontrar uma criança que não esteja sendo medicada. “Tudo virou TDAH. Fui chamada pela escola do meu filho, me disseram que ele tem que tomar Ritalina. O ensino está cada vez mais apertado e, quem não dá conta dele, tem que ser dopado?”, questiona uma mãe, que prefere não se identificar. Seu dilema é o mesmo de centenas de pais que neste exato momento devem estar na sala da diretoria recebendo o mesmo diagnóstico para o filho.

Foi assim com Letícia*, hoje com 16 anos. Ela estudava em uma escola particular de BH, que cobrava muito no ensino. “Ela não conseguia acompanhar. Aos 8 anos ela foi diagnosticada com o TDAH e, durante três anos foi medicada com Ritalina. Foram os piores anos da minha filha. Ela não se adaptou ao medicamento, teve depressão e só falava em morrer”, conta Maria Isabel*, mãe da menina. Desconfiada com o medicamento que só poderia ser usado durante as aulas, sendo suspenso nos fins de semana, férias e feriados, Isabel mudou a menina da escola que não lhe deu apoio e a transferiu para outra com nível de cobrança mais leve. “Suspendi o remédio e passei a fazer um acompanhamento com psicólogos. A autoestima dela melhorou. Hoje faz inglês e está no 2º ano do ensino médio”, conta.

De acordo com a consultora pedagógica do Sindicato das Escolas Particulares de BH e especialista em educação infantil, Renata Gazzinelli, está cada vez mais comum alunos com diagnóstico de desatenção e hiperatividade e muitos professores não estão preparados para lidar com o problema. “Apesar de muitas escolas contarem com um corpo de psicopedagogos e psicólogos, que têm conhecimento no assunto, há as que não têm essa estrutura, dependendo da percepção de professores para os casos.” Para ela, o que dificulta essa observação é que na sala de aula com 35 alunos há um com necessidade especial, cujos pais querem mantê-lo nessa instituição. “Mas, muitas vezes, ele não tem o perfil. Então, os pais deve se perguntar se o filho é para aquela escola; se não é hora de repensar uma forma mais leve de estudos que não seja tão firme. Só que a escola muitas vezes não dá conta de lidar com essa criança. Então, falta às vezes, esse limite das famílias. Aí, eles caem nas mãos de médicos que estão afim de resolver o problema e pegar o próximo cliente”, avalia.

Filhos do estresse
Renata Gazzinelli diz que o número de crianças e jovens sem limites tem sido um absurdo nas instituições escolares. “Eles fazem o que querem e parecem um carro desgovernado. São os filhos do estresse. E os educadores ficam de mãos atadas, pois os cursos de pedagogia não os preparam para isso. Os professores se tornaram refém da situação e a escola se vê também em outros dilemas, com professores mal formados, gestão frágil e escassez de bons profissionais. A família põe a culpa dos transtornos dos filhos nas escolas, mas não participam do ambiente escolar. Se não dermos as mãos, não sairemos desse círculo.”

De acordo com a psicóloga Juliana Baldo, do setor de psicologia educacional do tradicional Colégio Santo Antônio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, realmente tem havido muitos equívocos médicos para uso das medicações. “Aqui, primeiro investigamos com cautela, pois a desatenção é causada por muitos fatores. Temos percebido que há muitas crianças sendo medicadas e cujo diagnóstico real não é de TDAH. Nosso setor de psicologia tem feito uma discussão sobre esse aumento no uso do remédio. É um fenômeno social, da educação privada”, diz.

Os subnotificados da rede pública
Enquanto jorram diagnósticos para TDAH em meninos e meninas das escolas privadas, na rede pública o caminho é inverso. De acordo com estudo em andamento pelo setor de psiquiatria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o transtorno tem passado despercebido nas instituições de Belo Horizonte e também do interior do estado. “Ainda não temos a análise completa para divulgar. Mas em uma das escolas analisadas, dos 90 estudantes examinados de 5% a 10% apresentavam o distúrbio, mas nenhum deles estava sendo tratado. Ou seja, se está havendo prescrição excessiva, é da escola particular. Na rede pública, isso está sendo subnotificado”, preocupa-se o professor de psquiatria infantil da UFMG Arthur Kummer, lembrando que os medicamentos via Sistema Único de Saúde ainda não estão disponíveis em Minas, como em outros estados.

No Rio Grande do Sul o problema tem sido o mesmo. De acordo com o professor titular de psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e professor de Pós-Graduação em Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP), Luís Augusto Paim Rodhe, estudo feito em Porto Alegre em 12 escolas públicas examinou 500 crianças com potenciais para o transtorno. “Dessas, 100 confirmaram o TDAH, com prejuízos no aprendizado. Somente três tinham o diagnóstico prévio e tratamento”, pontua.

"Meu filho não queria estudar, não conseguia acompanhar nada do que passavam para ele na escola. Tomou duas bombas. Até que foi diagnosticado com TDAH e medicado. Deu certo. Há quatro anos ele toma o remédio, tem conseguido estudar e já pensa no vestibular.”

> D.D.R., funcionária pública

Sociedade reage à forma abusiva de indicação dos remédios da obediênciaRemédio, apesar de necessário em muitos casos, tem sido prescrito em excesso



Publicação: 05/07/2012 07:48 Atualização: 05/07/2012 07:59

Preocupados com o rumo que o excesso de indicação de medicamentos para colocar um freio em crianças inquietas e desatentas tem tomado no país e, principalmente, em Minas Gerais, entidades de classe do estado, pais, pesquisadores e órgãos públicos começam a se manifestar e abrir ainda mais a discussão para a polêmica, que saiu do silêncio e passou a fazer barulho. Assim como vem mostrando a série de reportagens publicadas no Estado de Minas desde segunda-feira, as reações são divergentes: há os que alertam sobre os riscos do excesso de uso das medicações Concerta e Ritalina (à base de cloridrato de metilfenidato) e os que querem provar a importância que as pílulas têm para quem sofre do transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e temem um alarde da população diante dos questionamentos colocados pelos especialistas ouvidos na série. Mesmo com a repercussão do tema, um dos órgãos que deveria se manifestar, a Secretaria de Estado de Saúde (SES), não se pronunciou sobre assunto.
As reportagens provocaram reações dos envolvidos quando se fala no distúrbio. O tema preocupou o Conselho Regional de Psicologia – Seção Minas Gerais que já articula ações para sensibilizar a sociedade tanto para os abusos na indicação de Concerta e Ritalina, quanto para a overdose de diagnósticos mal feitos. “Já tem um tempo que esses excessos estão preocupando nossos profissionais e impressionando o conselho. Sabemos que as vendas dos medicamentos estão altíssimas e os laboratórios escondem isso. Estamos preocupados com o discurso de que é possível ter uma medicação para que as crianças obedeçam. Os pais estão se rendendo a isso e, muitas vezes, tem havido mais danos do que benefícios”, destaca o membro da diretoria do conselho, Celso Renato Silva, que diz que os psicólogos estão se unindo para sensibilizar os pais de filhos com TDAH da importância de um tratamento bem estruturado. “Não somos contra a medicação, mas a banalização dela pode trazer consequências graves”, alerta.

Depois das matérias divulgadas, a Associação Médica de Minas Gerais registrou uma alta procura de pais de crianças e adolescentes por respostas, o que levou a Associação Mineira de Psiquiatria a enviar uma carta ao EM e aos leitores, esclarecendo que o tratamento medicamentoso não causa dependência química, “como é capaz de proteger contra isso”. “Há uma vasta literatura científica mostrando que as pessoas com TDAH tratadas com metilfenidato têm menor potencial de desenvolver uso de drogas e comportamento antissocial em relação às pessoas com TDAH não tratadas. Os benefícios na esfera acadêmica, emocional e até mesmo física são evidentes”, diz o texto assinado pelo psiquiatra e membro da entidade Arthur Kummer.

O barulho também motivou o Fórum Sobre Medicalização da Educação e da Sociedade, composto por mais de 40 entidades, entre profissionais da educação, assistência social e saúde, a criar, ainda este ano em Belo Horizonte, um núcleo local, já presente em São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro. A polêmica também despertou pesquisadores a mostrar novos números. Defendendo a medicação como uma forma de proteger as novas gerações, a doutora em gestão do conhecimento e coordenadora do curso de pós-graduação em neurociência e psicanálise aplicada em educação da Faculdade São Camilo, Lucília Panisset, trouxe para a discussão dados que, segundo ela, são mais preocupantes do que os de consumo de Ritalina e Concerta no país, que passou de 71 mil caixas em 2000 para 2 milhões em 2009, colocando o Brasil como o segundo maior consumidor do mundo desses medicamentos, como mostrou a primeira reportagem da série.

“De 75% a 85% dos detentos da Europa e dos Estados Unidos foram diagnosticados com TDAH e não se trataram ou receberam o diagnóstico mais tarde. Outra pesquisa dos EUA mostra ainda que dos 3 mil infratores de lá, 60% tinham problemas com aprendizagem decorrentes do TDAH”, aponta Lucília. A especialista está fazendo um estudo sobre a prevalência do distúrbio em menores infratores em Minas Gerais. De acordo com ela, de modo geral, 13% das crianças estão propensas a repetir o ano escolar. “Com TDAH, esse percentual passa para 45%. Em um universo em que 40% dos menores roubam, com TDAH esse percentual sobe para 55%, motivados pela forte impulsividade. Por isso, a população tem que estar ciente da importância do tratamento dessa disfunção”, diz.

Alvo de polêmica
Um dos pontos que mais chamaram atenção na série Geração controlada foi a declaração da professora titular de pediatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro-fundadora do Fórum de Medicalização, Maria Aparecida Affonso Moysés, na matéria publicada segunda-feira, quando a especialista disse que a Ritalina e o Concerta são derivados da anfetamina e da cocaína. A Associação Médica de Minas Gerais (AMMG) diz que a especialista foi sensacionalista e causou pânico e medo na sociedade. “Esses medicamentos não são derivados da cocaína”, informou a AMMG. Procurada novamente ontem, Maria Aparecida rebateu, atestando que a informação está na literatura farmacêutica. “É o mesmo mecanismo de ação sim. A discussão está no mundo todo. Se minha declaração irritou os médicos é porque abalou o autoritarismo deles. Eles passaram a ser questionados. A ciência tem que ser sempre discutida. É um serviço para a população.”


 (Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Depoimento - F., de 9 anos - aluno do ensino fundamental

“Sempre tive boas notas, mas faço bagunça e não gosto muito de estudar. Odeio fazer dever de casa. Eu sempre questiono muito os professores e, por isso, eles disseram que eu era doente. Questionava porque não estava entendendo a matéria, mas acho que quem tem dúvida tem que perguntar, não é? Quando estou na sala presto atenção no recreio lá fora e no barulho do cortador de grama. Mas, com o remédio, prestei mais atenção na professora e parei de questioná-la. Fiquei mais quieto e na minha. Mas tinha dor de cabeça, enjoos e dor na barriga. Com isso, só conseguia ir na aula e não podia mais brincar. Não gosto das matérias da escola, prefiro a hora do recreio. Hoje, sem a medicação, estou mais feliz e continuo bagunceiro.”

Alerta a professores e farmacêuticos

O Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais quer, a partir da série do Estado de Minas, orientar farmacêuticos do estado sobre os riscos e benefícios das medicações. “Existe, sim, um uso exacerbado desses remédios e isso nos preocupa. Como essas medicações estão sendo dispensadas?”, questiona o vice-presidente do conselho, Claudiney Ferreira. Uma outra orientação, também com tom de preocupação, vem da Secretaria de Estado de Educação, que, por meio de nota, diz que os professores devem estar sempre atentos às dificuldades de aprendizagem ou comportamentais dos alunos, que podem ter causas diversas. “Não é papel do professor realizar diagnósticos, mas buscar identificar possíveis problemas e orientar os pais para que procurem auxílio médico ou psicológico para seus filhos. Diante de um diagnóstico positivo, o professor deve orientar-se com um especialista para saber como lidar com aquele caso específico. Caso não se confirme o problema de saúde, cabe ao professor e a escola buscarem alternativas para solucionar as dificuldades apresentadas pelo aluno”, diz o texto.

O alerta da Sociedade Mineira de Pediatria está para os diagnósticos bem feitos. “O mal existe e é importante que se façam exames corretos. Ao se ter a suspeita do distúrbio de TDAH, são vários testes a serem feitos: um para o TDAH e outros para avaliar a existência de outros transtornos associados. Somente um terço dos pacientes sofrem somente com o TDAH. Há os que têm problemas depressivos, de ansiedade, entre outros. As medicações são seguras, mas é preciso serem prescritas com responsabilidade”, comenta Marli Marra de Andrade, presidente do comitê de neuropediatria da entidade.

PAIS Muitos pais procuraram o jornal, por meio de telefonemas e e-mails, dando seus relatos. Uma dessas mães, muito preocupada com as reações dos medicamentos, quis que seu filho, F., de 9 anos, que tomou Ritalina por dois meses, mas parou por causa dos efeitos, contasse ao EM a sua história.


Estudo inédito mostra que nem todo doente com TDAH precisa usar a droga da obediênciaEstudo inédito feito pela USP, Unicamp e outras duas entidades em 18 estados mostra que de 459 crianças e jovens diagnosticados com TDAH, 23,7% tinham o distúrbio e, dos 128 medicados, apenas 27,3% precisam da droga

Publicação: 06/07/2012 08:17Atualização: 06/07/2012 08:37


Aos 35 anos, Letícia Ceolin, com a filha, de 4: 'Foi difícil conviver com a minha hiperatividade' (MARCOS VIEIRA/EM/D.A PRESS)
Aos 35 anos, Letícia Ceolin, com a filha, de 4: 'Foi difícil conviver com a minha hiperatividade'
Um dos maiores estudos feitos no Brasil em 2011, com cerca de 6 mil crianças e adolescentes, mostrou que de 459 diagnosticados anteriormente com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) apenas 23,7% eram realmente portadores do distúrbio e, dos 128 meninos e meninas medicados, 27,3% precisavam dos remédios. O levantamento foi feito por psiquiatras e neurologistas da Universidade de São Paulo (USP), Unicamp, do Instituto Glia de Pesquisa em Neurociência, de Ribeirão Preto (SP), e do Albert Einstein College of Medicine (EUA). Questionado pelo Estado de Minas se os outros 72,7% tomavam a medicação sem necessidade, já que a pesquisa indicou que apenas 27,3% precisavam das pílulas, o consultor do estudo e professor de psiquiatria da infância e adolescência da USP, Guilherme Polanczyk, explicou não ser essa a interpretação. “É evidente que há taxa de diagnósticos errados, mas não temos a precisão disso. Nesse estudo, o que pode ter ocorrido é que, como estão sendo tratados, esses pacientes, no momento do questionário, não precisavam mais das doses, mas 27% necessitavam de mais pílulas por ainda apresentar os sintomas do transtorno”, argumentou.




A análise, ainda não publicada e apresentada no 3º Congresso Mundial de TDAH, na Alemanha, no ano passado, reforça o que a série do EM vem mostrando desde segunda-feira, e termina hoje: as muitas interpretações para o uso e abuso das medicações para tratar do transtorno, que sequer é consenso na medicina. Tendo como base o princípio ativo cloridrato de metilfenidato, as medicações mais conhecidas como Ritalina e Concerta para alguns especialistas se tornaram epidemia no país e um risco à vida de milhares de crianças, uma vez que o consumo saltou de 71 mil caixas em 2000, para 2 milhões em 2009. No entanto, esse mesmo dado é visto por médicos como baixo e é um alerta para a falta de tratamento de muitos casos. “Esses 2 milhões de caixas é pouco, já que estimamos que 5% da população juvenil sofra da disfunção. Há muitas crianças que não estão sendo tratadas”, comenta Polanczyk.


Diante da polêmica levantada pela série de reportagens, a Sociedade Brasileira de Psiquiatria, com sede no Rio de Janeiro, procurou ontem o jornal, depois de receber cerca de 150 e-mails de associações de familiares e pacientes preocupados. “O TDAH é um assunto sério, que precisa ser tratado adequadamente e bem diagnosticado. Hoje, qualquer profissional pode receitar medicamentos para o problema. Mas, trata-se de um transtorno mental e, como tal, será melhor avaliado por um psiquiatra”, defende o presidente da entidade, Antônio Geraldo da Silva. Segundo ele, para saber se o paciente sofre do mal é preciso, primeiro, um diagnóstico para o TDAH, feito por meio de uma entrevista médica centrada em diversas informações. “Não são necessários exames. É feito também um diagnóstico diferencial, em que se procuram outras doenças psiquiátricas, já que o paciente pode ter quadro de depressão, transtorno bipolar e outros. Não é simples. Se não tratada, a criança pode caminhar para as drogas, não se formar na escola e não chegar a cursar nada”, diz Silva, acrescentando que o tratamento não é terapia. “Isso é ilusão. Trata-se o mal com remédios, que não têm tanto efeitos colaterais. Todo portador do distúrbio precisa deles”, frisa.


Letícia Santos Ceolin, de 35 anos, é uma delas. Aos 5, ela foi diagnosticada com déficit de atenção e, na época, sua mãe decidiu por não medicá-la. “Convivi com a minha hiperatividade durante todo esse tempo. Tive sérios problemas no estudo, formei-me no ensino médio à base de supletivo. Não consegui terminar o ensino superior. No meu emprego, tomo advertência por falta de atenção e isso é péssimo. Queria ter sido medicada e, por isso, vou me consultar com um psiquiatra para tomar as medicações. Se a minha filha, de 4 anos, apresentasse sintomas de TDAH, certamente lhe daria os remédios, não quero que ela passe pelo o que eu passei”, desabafa.


Reconhecendo que deve haver muitos casos em que as medicações sejam pertinentes, a psicanalista e mestre em saúde da criança e do adolescente pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Silvia Grebler Myssior, que trabalha há 30 anos com consultório, diz que os casos que necessitam de remédios são raros. “De todas as crianças medicadas que vieram me procurar nenhuma precisava estar tomando as drogas.” Em 2008, em parceria com a psicanalista e membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano em BH, Zilda Machado, Silvia fez uma pesquisa sobre o assunto no mundo e concluiu, a partir de discussões pelo planeta, que há determinadas síndromes criadas pelos laboratórios apenas com fins econômicos. “A cada momento, surgem novos procedimentos com a finalidade de ministrar medicação psicotrópica a crianças de todas as idades. Medicadas, elas não têm chance de serem ouvidas em seus sintomas e esse é um assunto que preocupa os psicanalistas, já que é preciso trabalhar a causa dos sintomas, e não os efeitos”, comenta.


No artigo das especialistas, elas afirmam que muitos pais têm buscado no saber médico formas de controlar o filho, de educá-lo, adequá-lo ao esperado pela sociedade. “Em 2004, a Sociedade Americana de Pediatria organizou um estudo sobre o índice de possibilidade de atos impulsivos e suicídios em crianças e adolescentes. Em inúmeros trabalhos se afirma que o cloridrato de metilfenidato não deve ser usado em crianças depressivas ou psicóticas, pois sua administração exacerba comportamentos perturbados”, cita o estudo das psicanalistas. E Silvia conclui: “Mais do que hiperativas, as crianças estão hipermedicadas.”


PERSONAGEM DA NOTÍCIA
. Hélio magri filho
. Psicólogo, de 42 anos
“Isso me custou vários casamentos”
Diagnosticado com TDAH e dislexia aos 42 anos, depois de sofrer com a falta de indicação de tratamento durante toda a vida, tendo reflexos desde a idade escolar até em seus relacionamentos conjugais na fase adulta, o psicólogo Hélio Magri Filho, conta que a vida de quem tem o transtorno é difícil. “Isso me custou vários casamentos. Fui chamado de burro por muitos. Cheguei a tomar Ritalina e, sinceramente, acho sem graça ficar focado em uma coisa só. Então parei. Faço terapias, exercícios físicos e ioga para tentar me concentrar. Mesmo assim é difícil. Mas uso uma série de estratégias para isso”, relata Hélio, que hoje é professor de pós-graduação em neurociência e psicanálise aplicada em educação da Faculdade São Camilo, em Belo Horizonte, dá palestras sobre o assunto e escreveu o livro Sou disléxico... E daí?, contando sua vida com os diagnósticos de dislexia, TDAH, discalculia e Síndrome de Irlen, todos transtornos mentais.


QUESTIONÁRIO
O estudo foi feito por psiquiatras e neurologistas da Universidade de São Paulo, Unicamp, do Instituto Glia de Pesquisa em Neurociência e do Albert Einstein College of Medicine e contou com questionários completos de 5.961 pais de crianças e jovens, de 4 a 18 anos, em 87 cidades e 18 estados brasileiros, incluindo Minas Gerais. Os autores aplicaram questionários em pais e professores para identificar a ocorrência do transtorno, tendo como base os critérios do DSM-4 (manual americano de diagnóstico em psiquiatria).